A Justiça Federal da Bahia pediu a extradição para o Brasil de Diego Hernan Dirísio, conhecido como “Senhor das Armas”, e sua esposa, Julieta Vanessa Nardi Aranda.
Dirísio e Julieta são apontados como chefes de um esquema de tráfico internacional que forneceu milhares de armas para facções brasileiras, como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC). A suspeita é que o grupo tenha enviado ao Brasil cerca de 40 mil armas.
O casal foi preso no início de fevereiro na Argentina, e as autoridades querem que os dois cumpram a pena no Brasil. Os dois países têm um acordo que permite a extradição.
“Eles têm que responder perante a lei brasileira e a gente espera que aqui sejam condenados e presos, e cumpram a condenação no Brasil. É uma resposta muito importante que a gente pode dar para o crime organizado, para as facções criminosas, para os grupos que atuam no tráfico internacional de armas”, disse Flávio Albergaria, superintendente da Polícia Federal na Bahia, onde ocorrem as investigações.
Albergaria diz que também foram pedidas as extradições de outros presos que estão no Paraguai.
O g1 tentou, mas não conseguiu contato com as defesas de Diego Dirisio e de Julieta Aranda.
Quais são os crimes atribuídos a Diego Dirísio e Julieta Aranda?
O pedido de extradição foi assinado por um colegiado de juízes federais da Bahia.
O documento cita que Diego é chefe de uma organização criminosa voltada ao tráfico internacional de armas e sócio-gerente da empresa internacional IAS, por meio da qual era operado o esquema criminoso.
O objetivo é que ele seja julgado, no Brasil, por tráfico internacional de armas, promoção de organização criminosa e ocultação de bens provenientes de infração penal.
Em relação a Julieta Aranda, o objetivo é que ela seja julgada por organização criminosa.
Como funcionava a venda das armas
As armas eram compradas na Croácia e de outros países da Europa e enviadas ao Paraguai. Disírio, então, as revendia para grupos criminosos em Ciudad del Leste, que fica na fronteira com Foz do Iguaçu (PR). De lá, elas chegavam – com números de identificação retirados para evitar seu rastreamento – às facções criminosas brasileiras.
Em um dos áudios interceptados do alto do complexo de favelas do Alemão, no Rio, um dos chefes do tráfico de drogas e de armas na região- Fhillip da Silva Gregório, o Professor, reclama dos fuzis.
“Mais uma vez os quatro tá sem rajada, mano. Trabalhar assim fica difícil, meu amigão. Poxa, antes vinha um negócio bonitão. Agora cada vez tá vindo uma peça inferior.”
A organização criminosa era composta por seis núcleos:
- Núcleo Central: coordenava a IAS-PY e controlava os outros núcleos, comandado por Dirísio e Julieta;
- Núcleo de Vendedores: funcionários da IAS-PY responsáveis pela venda de armas para intermediários e compradores brasileiros;
- Núcleo Dimabel: militares paraguaios responsáveis pelo controle das vendas de armas no Paraguai;
- Núcleo de Intermediários: pessoas no Paraguai que serviam de vínculo com os compradores no Brasil; alteravam o número de série das armas e forjavam a criação de novas armas com peças extraídas de marcas diversas;
- Núcleo de Compradores: brasileiros integrantes do PCC e do Comando Vermelho que compravam armas diretamente do Paraguai;
- Núcleo da Lavagem: responsável pela ocultação e dissimulação da origem e destinos de recursos destinados a Dirísio ou a fabricantes de armas na Europa e Turquia.
Quando começou a investigação?
A investigação da PF teve início em 2020, após a apreensão de armas em Vitória da Conquista, na Bahia. Ao todo, foram realizadas 67 apreensões que totalizam 659 armas apreendidas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e Ceará.
As investigações apontaram que o empresário argentino mora no Paraguai e comprava milhares de pistolas, fuzis, rifles, metralhadoras e munições de vários fabricantes europeus (Croácia, Turquia, República Tcheca, Eslovênia).
E por meio de um esquema que envolvia doleiros e empresas de fachada no Paraguai e em Miami, EUA, a empresa de Diego Hernan Dirísio revendia os arsenais para as maiores facções brasileiras, principalmente no Rio de Janeiro e São Paulo.
Segundo a PF, de novembro de 2019 a maio de 2022, a empresa IAS, importou 7.720 pistolas de um fabricante na Croácia.
A investigação também apontou a compra e venda de 2.056 fuzis produzidos na República Tcheca e mais de cinco mil rifles, pistolas e revólveres de fabricantes na Turquia. Ao menos 1.200 pistolas também foram importadas de uma fábrica na Eslovênia: um total de 16.669 armas.
A operação foi realizada pela Polícia Federal da Bahia, em parceria com Ministério Público Federal (MPF) e cooperação internacional com a Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai (SENAD/PY) com o Ministério Público do Paraguai.
FONTE: G1 BAHIA