Mulher esfaqueada oito vezes pelo companheiro pede justiça contra agressor: ‘não vou ser mais um caso de feminicídio’

“Eu tenho fé em Deus que eu não vou ser mais uma em caso de feminicídio em Teresina”.

Foi com esperança e pedindo justiça que Joana Darck Alencar, uma sobrevivente da violência contra a mulher no Piauí, terminou uma entrevista exclusiva que concedeu aog1, durante a audiência de julgamento e instrução de Eduardo Alves da Luz, ex-companheiro e acusado da tentativa de feminicídio dela.

A delegada Nathalia Figueiredo, do Núcleo de Feminicídio de Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), responsável por conduzir o caso, explicou que, em contexto de feminicídio, o abusador enxerga a vítima como um objeto, feito para satisfazer as vontades dele.

“Então se ela não vai pertencer a ele, ela não pertencerá a mais ninguém. Isso a gente viu de forma bastante clara no caso da Joana Dark e do Eduardo, em que ele não se conformava com o fim do relacionamento, e nesse contexto, já que ela não ficaria mais com ele, ele resolveu [tentar] pôr fim à vida dela”, explicou a delegada.

  • A delegada também contextualizou sobre como as mulheres podem identificar relações abusivas.

Eduardo está preso desde dezembro do ano passado. Ele cumpre prisão preventiva enquanto aguarda o julgamento.

“Eu espero que os jurados vejam a minha dor, a minha angústia, a minha lamentação, porque eu não tive culpa de nada. Eu simplesmente cuidei dele, dos filhos, da casa. E o retorno que eu tive foi uma vida quase ceifada”, lamentou a vítima.

Joana Dark Alencar sobreviveu ao ataque e a um relacionamento abusivo, que deixaram marcas psicológicas fortes, que vão além das sequelas dos golpes que sofreu.

“Hoje eu só durmo a base de remédio e também tenho crises de pânico. Mesmo sabendo que ele está preso, não fico só. Minha vida acabou, acabou de uma vez por todas. Só tenho medo de tudo”, desabafou Joana.

Ela também não voltou a trabalhar por conta das marcas que o ataque deixou e hoje vive com a ajuda financeira da mãe.

“Eu não trabalho porque eu fiquei com sequelas físicas, eu não tenho mais força no braço e tive uma perfuração nas minhas costelas, que foi a mais grave de todas. Não posso mais perder peso, e nem posso comer tudo”, explicou a mulher.

‘Relacionamento altamente abusivo’

“Eu estava com seis meses com ele. Eu não podia ter contato com minha mãe, com minha família, e até com a minha filha, que morava com a gente. Ele não deixava porque ele dizia que estavam me dando homens. Eu também não tinha celular ou rede social, era um relacionamento altamente abusivo”, contou Joana.

Ela também disse que ele perseguia ela o dia todo. De acordo com a vítima, o homem passava em frente ao local onde ela trabalhava em vários momentos do dia e se aproximava para saber se ela estava conversando com alguém.

“Quando eu pensava que não, ele estava de trás das manequins, olhando para chamar atenção, para ver se eu estava conversando com alguém”, disse.

Evolução das agressões

Joana conheceu o ex-companheiro nas proximidades de um local que trabalhava e ficou com ele por seis meses, até quando começaram os abusos psicológicos e as primeiras agressões.

“Com pouco tempo de relacionamento, já percebi como ele era. Quando a gente saía, ele já dizia ‘presta atenção, não vai olhar pra homem’ e ‘você não tem costume de olhar para ninguém, não vai encarar ninguém’”, falou a vítima.

Ela explicou que ele dizia não ser ciumento e possessivo, mas já respondia por violência que cometeu contra outras mulheres.

As agressões começaram em casa e a vítima disse que sempre era convencida de que tinha culpa e se sentia culpada.

A primeira agressão que eu sofri foi quando nós chegamos, por incrível que pareça, da Missa da Misericórdia lá na Vila Operária. Ele já chegou transtornado em casa, dizendo que eu estava olhando para uma pessoa dentro da igreja. Aí eu fui tomar banho e ele entrou no banheiro e me derrubou. O meu filho presenciou e empurrou ele e na hora, eu quis apaziguar a situação”, relembrou Joana.

A violência deixa marcas em toda a família. A filha de Joana, de 17 anos de idade teve surtos psicóticos ao presenciar as agressões. Hoje a menina faz acompanhamento psicológico.

Após a evolução da violência que viveu, a mulher decidiu denunciar o crime e acabar com o relacionamento. Ela registrou um Boletim de Ocorrência contra o agressor e semanas depois foi atacada.

O crime

Em dezembro do ano passado, Joana estava sentada na porta do local onde trabalhava e foi atacada por Eduardo Alves da Luz, que atingiu ela com oito facadas na avenida principal do Parque Piauí, Zona Sul de Teresina. Uma câmera de segurança flagrou o momento do crime.

A violência deixa marcas em toda a família. A filha de Joana, de 17 anos de idade teve surtos psicóticos ao presenciar as agressões. Hoje a menina faz acompanhamento psicológico.

Após a evolução da violência que viveu, a mulher decidiu denunciar o crime e acabar com o relacionamento. Ela registrou um Boletim de Ocorrência contra o agressor e semanas depois foi atacada.

O crime

Em dezembro do ano passado, Joana estava sentada na porta do local onde trabalhava e foi atacada por Eduardo Alves da Luz, que atingiu ela com oito facadas na avenida principal do Parque Piauí, Zona Sul de Teresina. Uma câmera de segurança flagrou o momento do crime.

As imagens mostram a mulher sentada na calçada, aguardando a loja que ela trabalha abrir, quando o criminoso se aproximou abruptamente e desferiu vários golpes de faca contra ela. Conforme investigação conduzida pela delegada Nathalia Figueiredo, o homem tentou matar a ex.

“A vítima relatou que durante o ataque, inclusive, ele tentou afastar os braços dela para atingir a região do tórax. Então você vê que a intenção não era uma mera lesão. Realmente ele tentou ceifar a vida dela”, concluiu a delegada Nathalia Figueiredo, responsável pelo caso.

Pedido de liberdade negado

A defesa de Eduardo Alves da Luz entrou com um pedido de habeas corpus no fim do mês passado. Contudo, a justiça negou o pedido.

A gravidade do crime e o risco da repetição da violência por ele responder por outros crimes de agressão contra mulheres foram as justificativas para que o acusado permaneça preso.

Patriarcado, misoginia e como identificar um relacionamento abusivo

A delegada Nathália Figueiredo trabalha atendendo mulheres e investigando casos de feminicídio. Ela destaca que a violência doméstica e familiar não começa com a morte. E sim, num contexto anterior de violência psicológica e de controle, que pode ser confundido com cuidado e romantizado pelas vítimas.

“Geralmente elas têm início justamente com um controle excessivo, por vezes o abusador ele é grosseiro ao falar e tem uma relação de dominação em relação à vítima. E muitas acabam por confundir com cuidado. Acha que é a personalidade do companheiro e não percebe que, com o tempo, isso vai evoluindo até chegar ao ponto da violência física”, explicou a delegada

A especialista reforçou que os criminosos veem as mulheres na perspectiva de servir ao homem, características de uma sociedade patriarcal e de misoginia, quando há ódio e menosprezo pelas mulheres, apenas por serem mulheres.

Como denunciar e buscar ajuda

As mulheres vítimas de violência podem denunciar e buscar ajuda nos seguintes canais:

  • Disque Direitos Humanos: telefone 100;
  • Aplicativos: botão de pânico do Salve Maria;
  • “Ei, mermã! Não se cale!”: protocolo de atendimento emergencial (0800-000-1673);
  • Guarda Maria da Penha (Guarda Civil Municipal de Teresina): telefone 153 ou mensagem (86 3221-3499);
  • Central de Atendimento à Mulher: telefone 180;
  • Polícia Militar: telefone 190, Patrulha 24h (86 99528-3835) e mulheres que possuem medidas protetivas (86 99414-8857);
  • Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM): confira telefones e endereços na matéria;
  • Qualquer delegacia de Polícia Civil.

FONTE: G1 PIAUÍ

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