Férias antecipadas, travessia de rio, aulas em bar: chuvas intensas dificultam acesso de crianças a escolas no Piauí

As chuvas intensas que caíram no Piauí no primeiro trimestre de 2024 afetaram o acesso de estudantes às escolas da rede básica de ensino em Teresina e pelo menos outros quatro municípios: Massapê do Piauí, São João do Piauí, Patos do Piauí e Milton Brandão.

Na última quinta-feira (14), a Prefeitura de Massapê do Piauí antecipou as férias escolares, que ocorreriam em julho deste ano, para o período entre 15 de março a 29 de março. As aulas já estavam suspensas desde 22 de fevereiro devido às estradas danificadas pelas chuvas.

Segundo a gestão, as estradas necessitam de reparos emergenciais para que transporte dos alunos às escolas seja retomado. Além disso, o nível de rios e riachos subiu e diversas barragens transbordaram, o que também comprometeu o acesso de carro a parte das comunidades da zona rural.

“O objetivo da readequação do calendário escolar é garantir que o ano letivo seja devidamente cumprido, de forma que os alunos não sofram prejuízo no aprendizado”, afirmou o prefeito Rivaldo Carvalho (Progressistas).

As aulas também foram suspensas em Patos do Piauí e São João do Piauí. Em ambas as cidades as aulas suspensas devem ser repostas, conforme reorganização acordada entre as escolas e as secretarias municipais de Educação.

São João do Piauí registrou as maiores precipitações do Brasil em 19 e 21 de fevereiro (173,8 mm e 178 mm, respectivamente). A secretaria de Infraestrutura da cidade apontou, em 23 de fevereiro, que vários trechos das estradas da cidade se romperam, inviabilizaram o transporte escolar e puseram a segurança dos alunos em risco.

As aulas foram retomadas em 4 de março, depois que a prefeitura conseguiu reparar os trechos de estrada bloqueados. Segundo a secretaria de Educação, os reparos continuam acontecendo.

Em Patos do Piauí, que também sofreu com o aumento expressivo das chuvas, algumas estradas que ligam a zona rural à zona urbana do município ficaram danificadas e o transporte dos alunos ficou impossibilitado.

Em 26 de fevereiro, o prefeito de Patos, Joaquim Neto (PSD), declarou que a maior parte dos estudantes residiam na zona rural da cidade e não poderiam ser prejudicados porque os acessos se encontram intrafegáveis “em vários pontos”.

Na zona rural de Milton Brandão, crianças e adolescentes da comunidade Oitis atravessaram o Rio Corrente amarradas a uma corda, que os ajudou a fazer a travessia até a escola.

As imagens foram registradas pela TV Clube em 6 de março, após fortes chuvas na região. Mãe de três estudantes, Janaína Frota, de 41 anos, relatou que precisou amarrar os filhos “como animais”.

Janaína explicou que os alunos não conseguem ir à escola durante o período mais intenso de chuva. As unidades de ensino da região ficam a cerca de 20 km da comunidade de Paudarco, em Milton Brandão, onde ela mora com os filhos.

Em nota, a prefeitura de Milton Brandão ressaltou que a demanda é “antiga” e que a gestão busca recursos e apoio do governo estadual para construir uma passagem no local. Já o secretário de Educação, Lisandro Gonçalves, classificou a decisão de “colocar as crianças em risco” como “de livre e espontânea vontade” dos pais.

Diante de uma estrada intrafegável devido à lama formada pelas chuvas, os estudantes da Escola Municipal Serafim, localizada no Povoado Cebola, Zona Rural Sul de Teresina, tiveram que assistir às aulas em um bar.

A diretora da escola, Maria de Fátima, revelou que as crianças tiveram aulas no local em 8 e 12 de março. Ela reforçou que, enquanto as crianças estão lá, não havia venda ou consumo de bebida alcoólica, já que o espaço funciona como bar apenas aos finais de semana.

A gestora contou que as crianças estão em processo de alfabetização e, por isso, poderiam ser prejudicadas com a ausência de aulas. Além disso, os pais trabalham e não têm com quem deixar as crianças, dependendo da permanência dos filhos na escola.

Ainda conforme Maria de Fátima, a Escola Municipal Serafim atende 60 estudantes de seis a dez anos nos turnos manhã e tarde. No período da manhã, estudam 40 crianças do 1º ao 3º ano. À tarde, é a vez do 4º e 5º anos.

Procurada pelo g1, a Secretaria Municipal de Educação (Semec) afirmou que a recuperação da estrada cabe à Superintendência de Ações Administrativas Descentralizadas Rural (SAAD Rural). A SAAD, por sua vez, realizou reparos emergenciais e aguarda o término do período chuvoso para finalizar a obra.

FONTE: G1 PIAUÍ

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